Está em curso o “Laboratório da Preguiça” em Cabo Verde

Está em curso o “Laboratório da Preguiça”, uma ação integrada de planeamento estratégico, desenho urbano e arquitetura para a Vila da Preguiça, no Município da Ribeira Brava, na Ilha de São Nicolau, em Cabo Verde.

Em parceria e sob coordenação da ONG Atelier Mar e com o MEIA, Instituto Universitário de Arte, Tecnologia e Cultura, ambos sediados no Mindelo — que por sua vez foram objeto de solicitação específica do Ministério das Infraestruturas, Ordenamento do Território e Habitação de Cabo Verde e do Município da Ribeira Brava — o Departamento de Arquitetura da Universidade de Coimbra [DARQ] e a Cátedra UNESCO em Diálogo Intercultural em Patrimónios de Influência Portuguesa [Patrimónios], comprometeram-se com o desenvolvimento de uma ação integrada de planeamento estratégico, desenho urbano e arquitetura para a Vila da Preguiça daquele município.

A Patrimónios e o DARQ respondem ao desafio com uma equipa constituída por 3 professores e 9 alunos do Seminário de Investigação em Arquitetura (1º semestre) e, em sequência, Laboratório de Projeto (2º semestre) do Mestrado Integrado em Arquitetura, em que as dissertações de mestrado que ali estão a ser desenvolvidas corresponderão ao conjunto integrado de planos e/ou projetos que darão corpo àquela ação. A estes junta-se um professor e uma aluna do MEIA. Somos, por conseguinte, 10 alunos e 4 professores de arquitetura e urbanismo. Assim se explica a origem de Laboratório da Preguiça como designação geral da ação.

O trabalho tem como prazo de desenvolvimento o ano-letivo 2018-2019, tendo assim começado em finais de setembro e prevendo-se a entrega em junho, reservando-se julho para a conversão de alguns elementos do formato académico ao de plano e/ou projeto em termos e suportes que permitam a sua aprovação e implementação administrativas e em obra.

Durante os meses de outubro e novembro a equipa procedeu à recolha e estudo de dados, bem como à identificação da problemática e respetivos contextos e exemplos de boas práticas. Foi-se também preparando uma missão conjunta de trabalho na Vila da Preguiça, que teve lugar entre os dias 8 e 12 de dezembro e foi complementada por uma brevíssima visita à Praia, capital do país, 2 dias no Mindelo e 1 dia na ilha de Santo Antão. Estes 3 dias foram muito importantes para se tomar contacto com realidades concretas dos materiais, processos e sistemas construtivos que o Atelier Mar tem vindo a implementar em situações similares, bem como sobre casos de intervenções integradas com muitos pontos de similitude com a que a Vila da Preguiça requer.

Além de tudo o mais, esta estadia de 8 dias em Cabo Verde foi determinante para que os estudantes que nunca tinham tido contacto direto com realidades africanas ou mesmo extraeuropeias, começassem a sentir as diferenças e especificidades. Em tudo foi determinante a integração na equipa da estudante do MEIA, por sinal natural da Vila da Preguiça, e do seu reitor e responsável do Atelier Mar, Leão Lopes.

Focando mais diretamente no trabalho realizado na Vila da Preguiça, a equipa teve à sua disposição uma casa onde pôde instalar um espaço de trabalho com todas as valências necessárias, designadamente a realização de sessões e reuniões de trabalho. Teve ainda o acompanhamento ativo e permanente do Arq.º Zenito Borja da Câmara Municipal da Ribeira Brava, bem como o privilégio da visita e diálogo aberto com o respetivo Presidente. Nessa interação foram completados dados inicialmente procurados e encontradas respostas para múltiplas questões relativas à gestão do território em questão, designadamente planos de ação e financiamento em curso ou programação, que assim irão ser integrados. Foram ainda validadas as opções estratégicas e metodológicas de que adiante também se dá conta sumária.

Determinante, porque um dos principais fundamentos metodológicos assumidos desde o início, foi o diálogo com a população, por vezes em reuniões como a que foi quase espontaneamente realizada com os pescadores no Centro Social, mais frequentemente em conversas de rua e nas visitas a habitações degradadas. Diálogo cuja informação foi sendo completada pela observação atenta dos movimentos da população nos mais diversos espaços públicos da vila. Observação feita ao percorrer em todos os sentidos, e mais do que uma vez, em horas e condições diversas todas as ruas, caminhos e trilhos, também procurando os mais diversos pontos de vista e entre tudo isso fazendo levantamentos fotográficos, desenhados e à fita métrica, que muito em breve irão informar os desenhos vetoriais que serão a base material de desenvolvimento dos planos e projetos.

Foi também cumprido o desígnio de se determinarem os planos e projetos necessários para implementar o processo de ação, bem como a atribuição da responsabilidade de elaboração de cada um deles pelos 10 estudantes que integram a equipa. Já na MEIA, com vista à exposição e discussão das principais linhas do trabalho realizado à respetiva comunidade académica, foi preparada e feita uma apresentação que, por ser a melhor síntese que dele temos no momento, vai aqui inserida como fazendo parte integrante desta ata. Resta registar antes quem além daqueles alunos integra a equipa:

Coordenação: Leão Lopes (Atelier Mar e MEIA) e Walter Rossa (Universidade de Coimbra)
Comissão Científica: Adelino Gonçalves e Nuno Miguel Lopes (Universidade de Coimbra)

Além das funções indicadas, estes 4 docentes são não apenas responsáveis pela orientação pedagógica e científica das dissertações de mestrado em questão, como pela validação técnica dos planos e projetos, responsabilizando-se ainda pela realização de outros projetos que o desenrolar do processo possa vir a requerer.

Artigo de Jorge Montesinho sobre “o futuro sustentável da Preguiça”.